...
Vai pois e noticia com um archote
aos que encontrares de fora das muralhas
o mundo em que nos vemos, poesia
massacrada e medos à ilharga.
...
Mas diz-lhes que se mantém indevassável
o segredo das torres que nos erguem,
e suspensas delas uma flor em lume
grita o seu nome incandescente e puro.
Diz-lhes que se resiste na cidade
desfigurada por feridas de granadas
e, enquanto a água e os víveres escasseiam,
aumenta a raiva
___________e a esperança reproduz-se.
Egito Gonçalves - Notícias do bloqueio
Foto: Torres em Penela
28 fevereiro 2006
27 fevereiro 2006
24 fevereiro 2006
Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.
Natália Correia - Ó véspera do Prodígio - IV
Foto: Conímbriga - Peristilo da Casa dos Repuxos
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.
Natália Correia - Ó véspera do Prodígio - IV
Foto: Conímbriga - Peristilo da Casa dos Repuxos
"Nos Açores, chove em todo o Arquipelago."
Anuncia ufano o "pé de microfone" de serviço no notíciario da RTP. Se tivesse anunciado que ia chover, de certo que não se enganava.
Agora chove, presente do indicativo? Está um sol radioso na Terceira. Está calor, há gente em mangas de camisa, não se vê nem um farripo de nuvem ameaçadora. Chove? Cheira-me que isto é o lobby do turimos madeirense a funcionar...
Agora chove, presente do indicativo? Está um sol radioso na Terceira. Está calor, há gente em mangas de camisa, não se vê nem um farripo de nuvem ameaçadora. Chove? Cheira-me que isto é o lobby do turimos madeirense a funcionar...
22 fevereiro 2006
...
Os meus pés tocam o vértice dos vértices das escadas,
Em cada degrau há uma série de eras e séries maiores entre os degraus,
Todos os de baixo devidamente percorridos, e continuo a subir e a subir.
À medida que subo os fantasmas inclinam-se atrás de mim,
E, lá em baixo, ao longe, vejo o imenso Nada primordial, sei que aí estive,
também,
Esperei sempre invisível e dormi na névoa letárgica,
Vivi o meu tempo e não me feriu o fétido carbono.
Durante muito tempo fui tão abraçado... muito, muito tempo.
Imensos foram os preparativos para mim,
Fiéis e cordiais os braços que me ajudaram.
...
Walt Whitman - XLIV - Canto de mim mesmo
(tradução de José Agostinho Baptista)
Os meus pés tocam o vértice dos vértices das escadas,
Em cada degrau há uma série de eras e séries maiores entre os degraus,
Todos os de baixo devidamente percorridos, e continuo a subir e a subir.
À medida que subo os fantasmas inclinam-se atrás de mim,
E, lá em baixo, ao longe, vejo o imenso Nada primordial, sei que aí estive,
também,
Esperei sempre invisível e dormi na névoa letárgica,
Vivi o meu tempo e não me feriu o fétido carbono.
Durante muito tempo fui tão abraçado... muito, muito tempo.
Imensos foram os preparativos para mim,
Fiéis e cordiais os braços que me ajudaram.
...
Walt Whitman - XLIV - Canto de mim mesmo
(tradução de José Agostinho Baptista)
20 fevereiro 2006
Pátria vista da fraga onde nasci.
Que infinito silêncio circular!
De cada ponto cardeal assoma
A mesma expressão muda.
É de agora ou de sempre esta paisagem
Sem palavras
Sem gritos,
Sem o eco sequer de uma praga incontida?
Ah! Portugal calado!
Ah! povo amordaçado
Por não sei que mordaça consentida!
Miguel Torga - Panorama
18 fevereiro 2006
A emoção é como um pássaro:
Quando se prende já não canta.
Mas se a gente a liberta,
Qualquer janela aberta
Lhe serve para fugir.
O poeta é aquele que numa praça
S.Marcos de Veneza transcendente,
E de todas as praças, praça ainda,
Aguarda na manhã que se insinua
Ou na tarde que finda
O voo que há-de vir.
Ele estende a mão,
Abre-a espalmada
Ao céu,
Que à anunciação de tudo ou nada
A emoção virá ou não
-Sem emoção, toda a poesia é nada-
Fiel à Anunciação que está marcada
Na sua condição.
Reinaldo Ferreira - Poemas
Quando se prende já não canta.
Mas se a gente a liberta,
Qualquer janela aberta
Lhe serve para fugir.
O poeta é aquele que numa praça
S.Marcos de Veneza transcendente,
E de todas as praças, praça ainda,
Aguarda na manhã que se insinua
Ou na tarde que finda
O voo que há-de vir.
Ele estende a mão,
Abre-a espalmada
Ao céu,
Que à anunciação de tudo ou nada
A emoção virá ou não
-Sem emoção, toda a poesia é nada-
Fiel à Anunciação que está marcada
Na sua condição.
Reinaldo Ferreira - Poemas
16 fevereiro 2006
Já não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada,
em que os poetas são os próprios versos dos poemas
e onde cada poema é uma bandeira desfraldada.
Ninguém fala em parar ou regressar.
Ninguém teme as mordaças ou algemas.
- O braço que bater há-de cansar
e os poetas são os próprios versos dos poemas.
Versos brandos... Ninguém mos peça agora.
Eu já não me pertenço: Sou da hora.
E não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada,
onde cada poema é uma bandeira desfraldada
e os poetas são os próprios versos dos poemas.
Sidónio Muralha - Soneto imperfeito da caminhada perfeita
que possam perturbar a nossa caminhada,
em que os poetas são os próprios versos dos poemas
e onde cada poema é uma bandeira desfraldada.
Ninguém fala em parar ou regressar.
Ninguém teme as mordaças ou algemas.
- O braço que bater há-de cansar
e os poetas são os próprios versos dos poemas.
Versos brandos... Ninguém mos peça agora.
Eu já não me pertenço: Sou da hora.
E não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada,
onde cada poema é uma bandeira desfraldada
e os poetas são os próprios versos dos poemas.
Sidónio Muralha - Soneto imperfeito da caminhada perfeita
13 fevereiro 2006
12 fevereiro 2006
Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?
...
Sei que a pedra é real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?
...
Sei que a pedra é real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.
Fernando Pessoa/Alberto Caeiro - excertos de Poemas inconjuntos
10 fevereiro 2006
06 fevereiro 2006
aaaaa Las cosas que se van no vuelven nunca,
todo el mundo lo sabe,
y entre el claro gentío de los vientos
es inútil quejarse,
aaaaa Verdad, chopo, maestro de la brisa?
aaaaa Es inútil quejarse!
Federico Garcia Lorca - excerto do poema Veleta
Foto de Platero
todo el mundo lo sabe,
y entre el claro gentío de los vientos
es inútil quejarse,
aaaaa Verdad, chopo, maestro de la brisa?
aaaaa Es inútil quejarse!
Federico Garcia Lorca - excerto do poema Veleta
Foto de Platero
03 fevereiro 2006
Ah, que me metam em cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!
a
Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado,
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.
Mário de Sá-Carneiro - excerto do poema Caranguejola
Foto de Platero
02 fevereiro 2006
Excêntricos
Num anúncio do euromilhões vende-se a liberdade que o dinheiro daria para fazer algo de inusitado.
Há exemplo reais, o 21º homem mais rico do mundo comprou um clube de futebol para brincar.
E o 1º homem mais rico do mundo? Compra um país?
Há exemplo reais, o 21º homem mais rico do mundo comprou um clube de futebol para brincar.
E o 1º homem mais rico do mundo? Compra um país?
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